Entre a redação e a sala de aula: A visão de Tércio Saccol sobre o jornalismo e as assessorias de imprensa

Hoje estreio minha coluna com o propósito de contribuir com dados e entrevistas exclusivas com profissionais da imprensa e das agências de comunicação do Brasil. O objetivo é aprofundar as discussões sobre o cenário da comunicação, compreender desafios e oportunidades na atualidade e, acima de tudo, conectar assessores de imprensa e jornalistas em prol de boas práticas no nosso setor.

Para inaugurar este espaço, escolhemos um convidado de peso: Tércio Saccol, editor da GZH e professor na PUCRS. Com uma trajetória extensa no jornalismo e uma visão crítica sobre o futuro da profissão, ele compartilha suas experiências e reflexões em uma conversa exclusiva.


O jornalismo está em constante evolução, e profissionais que transitam entre a redação e a academia possuem uma visão privilegiada sobre os desafios e oportunidades da profissão. Tércio Saccol, editor na GZH e professor na PUCRS, compartilha sua trajetória, desafios e reflexões sobre o futuro da comunicação em uma entrevista exclusiva ao portal Assessores de Imprensa.

💡 Trajetória no jornalismo

Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no jornalismo e o que o motivou a seguir essa carreira?

Claro! Eu tinha essa ideia de ser jornalista, até de forma meio idealista, desde uns 11, 12 anos de idade. Todo aquele estereótipo, fiz debate na escola, jornal da escola, etc. Acho que, como a maioria, me achava bom em comunicar, escrever, só fez sentido, sabe? Na faculdade, entrei sabendo como começar, mas nem ideia de como acabar. Tive crédito, bolsa e depois Prouni. Desde a faculdade já meti a cara, consegui estágio na área, mudei de estágio, mudei de novo e consegui estagiar na Rádio Gaúcha, onde brilhou meu olho para seguir no jornalismo.

Tércio Saccol

Ao longo da minha caminhada, eu tive uma experiência bem heterogênea. Trabalhei em rádio, em revista de negócios, em assessoria no setor público, fui chefe de reportagem na Band daqui do RS, fui pra SP, trabalhei no R7, no Infomoney, na Bandnews, e aqui no RS também no Canal Rural, no Vós, que é um projeto de jornalismo e Direitos Humanos onde ganhamos prêmios como o CNT e o Anamatra. Mais recentemente voltei pra RBS, desta vez como editor de GZH.

Nesse meio do caminho tive a maior transformação: eu voltei para Porto Alegre para ser professor da PUC, onde estou há 12 anos como docente.

Quais foram os momentos mais marcantes da sua trajetória profissional até agora?

Acho que muita coisa me marcou na caminhada. Eu mudei de cidade para trabalhar, eu escrevi matéria sobre Pré-Sal, eu tive matéria de freela que virou questão de vestibular, ganhei prêmio nacional, dei media training, roteirizei vídeo de educação financeira e um monte de coisa mais.

Uma das coisas mais legais é que a minha caminhada é toda cheia de curvas, tropeços, tentativas. Acho que o legado é bem positivo, principalmente pelas pessoas que conheci no caminho.

💡 Atuação no veículo atual

Como é seu dia a dia na GZH?

Hoje em GZH eu trabalho como um dos Coordenadores de Comportamento e Cultura em Fidelização, junto com a Julia Endress. É um baita desafio, porque pensamos materiais de mais fôlego, análise, discussão, profundidade em vários temas, como educação, saúde, ambiente, cinema, teatro, entretenimento, etc.

Quais são os principais desafios de trabalhar na redação atualmente?

São muitos desafios: pensar em conteúdos que tenham impacto, desdobrar assuntos de interesse público com capacidade de criar nexos, trazer contextos e contar boas histórias de diferentes formas. Penso que hoje temos muitas coisas para pensar ao mesmo tempo: audiência, tempo de permanência, sustentabilidade do negócio, multiplicidade de linguagens, alcance, etc. Ao mesmo tempo, temos ferramentas para pensar e criar estratégias na produção e distribuição, subsídios em tempo real.

O que mais te motiva na sua função atual?

Me motiva justamente pensar nas possibilidades de impacto, as formas de contar histórias, conectar diferentes dimensões dos fatos, permitir aprofundamento em temas e cenários que impactam a vida dos nossos leitores.

💡 Relacionamento com Assessores de Imprensa

Como você enxerga o papel das assessorias de imprensa no jornalismo atual?

Me parece que hoje temos, assim como em qualquer coisa, uma hipervelocidade nas conexões, né? São tantas fontes de informação, conteúdos, processos, e como tudo, se multiplicaram por mil os fluxos de comunicação entre redações e agências/assessorias. Mas acho que as agências e assessorias não apenas pensam a comunicação das organizações, como também dão sentido aos discursos nesse mundo meio caótico onde todo mundo fala, mas poucos ouvem. Tem arestas, claro, mas esse diálogo é fundamental para produzir sentidos na comunicação.

Qual é sua forma preferida de ser contatado por assessores (e-mail, WhatsApp, telefone)?

No meu cotidiano, atendo colegas das agências via WhatsApp, e-mail, telefone fixo… e de vez em quando Instagram e LinkedIn, mas não gosto, porque não uso essas redes apenas pelo jornal, não é o melhor caminho.

Que tipo de pautas ou informações realmente chamam sua atenção e o que faz um release ou sugestão de pauta se destacar para você?

Pautas que encontrem eco na nossa abordagem, que compreendam nossa linguagem, nosso público, que consigam desdobrar dados para a nossa realidade geográfica, que entendam a dimensão do nosso trabalho, etc. Quando vejo que o/a colega conseguiu um olhar para a nossa realidade, de fato, sabendo como trabalhamos, tem uma chance muito maior de leitura, e, mais adiante, aproveitamento, dentro das condições de tempo, factualidade, disponibilidade de equipe, etc.

Quais erros comuns os assessores cometem ao entrar em contato com jornalistas?

Acho que o maior problema é justamente a oferta de informações de forma meio massiva, sem levar em conta o que fazemos, ou disparos a esmo, sem nenhum direcionamento, sem nenhum diálogo, sabe? Vou te dar um exemplo: recebo MUITOS artigos, todos os dias. Mas eu não trabalho com artigos de opinião, e não entendo direito essa proposta de oferecer massivamente uma análise de algo que, muitas vezes, sequer está em pauta.

💡 Expectativas e visão de futuro

Como você enxerga o futuro do jornalismo, especialmente na sua área de atuação?

Eu, de fato, olho com preocupação para o futuro da comunicação, sobretudo pela forma como alguns valores históricos se esfacelaram, incluindo aí a ideia de verdade, de direitos humanos, de cientificidade. Sei que vem uma avalanche de transformações com a IA generativa, e com a própria digitalização em curso de muitas áreas, mas o cerne do que penso como desafiador é o social. É a formação, é o que se consome de informação, ao que se dá ou não valor, a capacidade de leitura e interpretação e a nossa quase idolatria cega aos algoritmos.

O que acredita que deve mudar na forma como a imprensa se relaciona com o público e as fontes?

Nessa realidade, eu realmente penso que a gente, na comunicação, precisa redobrar a aposta na criação dos nexos. Nas histórias que valorizam o pensar, no conteúdo que não sucumbe ao julgamento raso, na leitura crítica que não é automática.

Tércio Saccol

💡 Considerações finais

Há algo mais que você gostaria de compartilhar com nossos leitores?

Eu trabalho com muitos alunos todo semestre, né? E gosto muito disso, muito mesmo, sou feliz demais dando aula. E uma das coisas que eu mais gosto de fazer com meus alunos é conversar sobre carreira, futuro. Tem muita ansiedade, né? Ao mesmo tempo, hoje tem muitas carreiras que um jornalista pode perseguir, um leque muito maior de possibilidades: tem jornalista trabalhando com reputação, com audiovisual, com roteiro, com marketing de conteúdo, com redes, enfim. E claro que redação é um dos caminhos, e assessoria também é, mas não dá para ficar com a dicotomia de quando me formei (há quase 20 anos).

Que conselho você daria para jornalistas iniciantes que desejam atuar em redações?

Digo para a gurizada que quer trabalhar em redação que, claro, é massa lutar pelo que se quer fazer, mas não se apegar a isso como se não houvesse nada além. Pensar mais as competências, as linguagens do que os lugares especificamente, sabe? Tem tanta gente fazendo conteúdo massa para marcas, tanta gente produzindo material a partir de edital, tanto veículo independente, enfim, tem muita coisa nova precisando de um começo, de um empurrão. E aí eu sempre digo isso: olha para o que tu é bom, o que tu quer ser bom, enfim, e a partir daí faz teu mapeamento de mercados potenciais. Se for redação, ótimo, fui e sou feliz em redação, trabalhei em várias delas. Mas é um caminho. Tem outros muitos para experimentar.

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