(Alerta de spoiler: o texto a seguir contém informações do desenrolar de uma série lançada recentemente)
A série Dia Zero, da Netflix, alerta para um tema tão atual quanto preocupante: o poder arrasador da desinformação. Na trama, um ataque cibernético derruba todas as redes digitais dos Estados Unidos por apenas 1 minuto – o suficiente para deixar mais de 3 mil mortos e outros milhares de feridos. No dia seguinte, a presidente norte-americana convoca um de seus antecessores, interpretado por Robert De Niro, para liderar a comissão de investigação do atentado, que tem amplos poderes, inclusive de suspender algumas liberdades individuais. A partir daí, o político veterano passa a ser alvo de ataques diários de um influenciador digital, que sustenta sua enorme audiência lançando pesadas acusações e inflamando o povo. Até que as investigações sugerem uma possível ligação dessa figura com uma organização suspeita de envolvimento com o ciberataque. Então, o jogo vira. O ex-presidente recorre ao estado de exceção, concedido pelo Congresso, e lança mão de métodos de tortura para tentar extrair uma confissão de culpa do influenciador.
Dia Zero joga luz sobre os extremos a que a desinformação pode levar, mas também nos faz refletir sobre os riscos de recorrer à força como resposta. Esse debate se torna ainda mais urgente diante do recente relatório do Fórum Econômico Mundial de 2025, que apontou a desinformação como a maior ameaça global da atualidade, superando riscos econômicos e geopolíticos. Esse alerta não é apenas uma constatação teórica, mas um reflexo direto do que enfrentamos diariamente: uma avalanche de informações que carecem de credibilidade, princípio essencial do jornalismo.
Um outro estudo relativamente recente (Global MARCO New Consumer Report 2024) revela que o público ainda confia mais em jornalistas do que em influenciadores digitais, mas que já obtém boa parte de suas informações em redes sociais e aplicativos de mensagens – justamente os canais mais vulneráveis à disseminação de fake news.
Numa escala de zero a dez em termos de credibilidade de notícias, a mídia tradicional – que também podemos chamar de imprensa profissional – ainda desfruta de um nível considerável de confiança: pela ordem, TV (7,56); jornais impressos e rádio (7,41); e portais de notícia online (6,82). Porém, chama a atenção que redes sociais e outras mídias digitais não fiquem muito longe: podcasts (5,99); LinkedIn (5,81); WhatsApp (5,63); Instagram (5,58); Facebook (5,49); e Twitter/X (5,42).
Se, por um lado, a confiança no jornalismo profissional resiste (69,43% das pessoas acreditam mais em jornalistas do que em influenciadores digitais), por outro, o hábito de consumo de notícias migra cada vez mais para o território incerto das redes sociais. Esse descompasso coloca uma responsabilidade ainda maior sobre os ombros dos assessores de imprensa, que devem atuar como pontes entre fontes legítimas e os veículos de comunicação, garantindo que a informação verdadeira prevaleça sobre a desinformação.
Nesse contexto, o trabalho do assessor de imprensa se torna mais estratégico do que nunca. Sua missão não é apenas promover empresas, instituições ou indivíduos, mas também colaborar ativamente na construção de histórias factuais, ajudando jornalistas e o público a acessarem dados confiáveis e contextualizados.
Nós, assessores de imprensa, também temos o dever de reforçar a importância do jornalismo independente e incentivar que as organizações priorizem uma comunicação responsável, em vez de ceder à tentação do engajamento a qualquer custo.
Mais que isso, devemos zelar pela liberdade de imprensa, pois sem ela não há necessidade de assessores de imprensa.
Diante da ameaça da desinformação e do crescimento da influência das redes sociais, a credibilidade das notícias continua sendo um dos pilares fundamentais da democracia. E os assessores de imprensa, ao lado dos jornalistas, são peças-chave para manter essa estrutura firme e resistente, garantindo que a verdade tenha sempre espaço em meio ao caos informacional que é a marca dos dias atuais, mas um destino que ainda podemos mudar.
André Sales – Jornalista desde 1989, graduado pela Universidade Católica de Santos, especializado em Comunicação Empresarial pela ESPM e pós-graduado em Estratégia e Liderança Política pela FESP-SP. Foi repórter da Folha da Tarde e assessor de imprensa de dois prefeitos de São Paulo (de 1993 a 2000). Em 2001, fundou a Sales, Lima Comunicação, onde já atendeu a empresas como Avon, Grupo Silvio Santos, Peugeot do Brasil, entre outras. Foi diretor de Comunicação na JSL S/A, maior operadora logística do Brasil, consultor de comunicação do Grupo Neoenergia e é assessor de imprensa da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura). Também é sócio da Curado Comunicação, consultoria especializada em auditoria de imagem e gestão de comunicação em situações de crise.