Guia de Comédia para Assessores de Imprensa: Como se livrar da camisa de força em alguns passos

O primeiro deles: não se leve tão a sério

Ah, a vida de assessor de imprensa no Brasil! Se fosse um filme, seria uma mistura de comédia, drama e, claro, um toque de suspense, com um ritmo bem Tarantino e muito, muito surto. Não é exagero: pense que a soma equilibrar prazos apertados + demandas incessantes + a constante necessidade de estar atualizado não é para qualquer um. Nós, assessores, somos os fortes. E, como todo bom brasileiro, a gente ri para não chorar e segue em frente.

Real, oficial, é o que nos resta. Eu mesma estou nessa há quase 30 anos, 28, para ser mais precisa. E todo santo dia me pergunto “onde foi que eu amarrei o meu burro?”, para depois dar uma risadinha, tomar meu café e iniciar a fila de demandas, às vezes chorando, às vezes gritando, mas sempre rindo igual a mim, eu sou o Bozo, o palhaço de todos vocês…

Puro suco do caos da maior drama queen de Higienópolis e adjacências.

Falando sério agora, para dar um molho aqui, trago uma estatística que poderia ser o enredo de um stand-up comedy, se não fosse tão séria: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de ansiedade do mundo, afetando cerca de 9,3% da população.

A. MAIOR. TAXA. DE. ANSIEDADE. DO. MUNDO.

Minha psiquiatra e a minha terapeuta que o digam. Esse ano, aliás, completo 32 anos no divã. Agora, vamos imaginar o que é ser assessor de imprensa nesse cenário de ansiedade generalizada. Se a ansiedade fosse esporte olímpico, estaríamos todos com medalha de ouro no peito, recordes quebrados todos os dias, e a torcida levantaria o cartaz com a frase:

EU SÓ ACREDITO VENDO, MAS, VENDO, EU NÃO ACREDITO.

Rindo de nervosa, principalmente quando penso que não há um de nós que nunca tenha deixado de sentir aquele frio na barriga ao ver o telefone tocar às 22h com um cliente desesperado do outro lado da linha, ou mesmo um colega, que na hora do aperto trata a gente bem, mas, depois…

Ah, o depois.

Importante: aqui, “colega” é o termo técnico para designar aquele jornalista que está trabalhando em Redação. Do outro lado do balcão. Do outro lado da fronteira, aquele lugar distante onde outrora estivemos, ou que sonhamos estar um dia.

Ah, o depois… melhor deixar para lá. Meu advogado diz a mesma coisa.

Pois é, faz parte do pacote deixar para lá qualquer descontentamento, tristeza etc etc etc etc etc. Quem quer trabalhar e não tem a sorte de ter uma gestão humanizada, mas tem boleto para pagar, deixa para lá o tempo todo. E, sejamos honestos para dizer uma verdade que muita gente ainda reluta em admitir: a sobrecarga de trabalho e a cobrança por resultados aumentaram, e MUITO, durante a pandemia.

Depois, então, nem se fala.

Sabe aquele RECLAME, como diz minha mãe, que O PATRÃO ENLOUQUECEU? Aqui, no caso, os “cRientes” estão em um processo de check-in no hospício mais próximo. E a gente, claro, vai levando.

Sim, a pandemia afetou significativamente a saúde mental dos profissionais da comunicação. Como eu, como você. Com o fim dela, não tem ansiolítico que dê conta. E a gente vai levando, porque não tem jeito, a conta chega. Minha contadora que o diga.

Podia acabar por aqui, mas, preciso deixar uma mensagem de otimismo. Parece piegas, mas, nem tudo está perdido. Entre uma crise e outra, acaba que desenvolvemos a habilidade de aprender a valorizar as pequenas coisas, como uma pauta bem-sucedida, aquele follow-up que colou, um jornalista que responde ao e-mail (milagre!) e aquele cafezinho que salva a manhã. Afinal, como disse o poeta, “rir de tudo é desespero”, mas no nosso caso, é estratégia de sobrevivência.

E a gente vai levando. Como diz a Lorelay Fox, a gente se acostuma.

Se você sente que está a um passo de ser presenteado com uma camisa de força… sem ser (ainda mais) dramática, mas sendo super sincera, pare e pense: diante das loucuras do dia a dia, quem nunca pensou que poderia acabar dentro de uma? Eu mesma tenho essa sensação com uma frequência que até me diverte, só procuro não pensar. Mas aí, para alimentar ainda mais essa certeza, uma amiga (também assessora) me mandou um tutorial de como escapar de uma camisa de força (!!!). Ela provavelmente salvou o vídeo, e imaginou que eu eventualmente posso precisar. E não que eu ache que você precisará usar esse conhecimento, mas vai que… né?

Conhecimento bom a gente compartilha, jamais sonega. Enquanto isso, eu, você, minha amiga e todo mundo mais vai levando. By the way, o vídeo está no fim deste post.

Agora, sabe o que é mais louco no saldo das coisas? No fim das contas, ser assessor de imprensa no Brasil é como andar de montanha-russa: dá medo, frio na barriga, mas a gente sempre quer ir de novo. E eu apenas me pergunto: Por que???

Confesso que eu não sei responder, mas eu não quero outra profissão na vida, não. Eu amo muito tudo isso, embora um dos meus olhos raramente, mas na real o tempo todo, está paralisado.

Para finalizar, não se esqueça: cuidar da saúde mental não é luxo, é necessidade. Afinal, não somos máquinas de gerar press releases e resultados, somos seres humanos que merecem equilíbrio e bem-estar. E não podemos nos levar tão a sério, senão, a gente surta real oficial, com direito a número CID e demais perfumarias psiquiátricas.

Por favor, com licença, vou ali meditar por cinco minutos antes que alguém (ainda não sei quem) me peça algo (que eu nem imagino, mas terei que dar conta). Namastreta para todos vocês e fui.

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