E agora? Diversidade e inclusão não importam mais?

Os impactos da onda antiwoke para os negócios, a reputação e a comunicação das empresas

A onda antiwoke fortemente impulsionada pelo retorno de Donald Trump ao governo dos Estados Unidos tem impactado as diretrizes de Diversidade e Inclusão de muitas companhias. Empresas como McDonald’s, Ford e Harley-Davidson, por exemplo, resolveram reavaliar seus programas em resposta ao atual clima político. A Microsoft cortou uma equipe interna que tinha foco em DE&I.  O movimento é mais intenso entre as empresas de tecnologia, como aponta reportagem do Reset. Isso tudo afeta, evidentemente, a comunicação das empresas e resvala em sua reputação, mas não só: os negócios também são colocados em xeque.

Engana-se quem pensa que isso se restringe ao solo norte-americano. No Brasil, principalmente entre as multinacionais que acabam respondendo às matrizes, as pautas de diversidade e inclusão também começam a cair por terra. Essa estratégia é bastante errônea. Não só pela questão moral – que nem há espaço para se discutir porquês aqui – mas também pela questão da sustentabilidade dos negócios.

O quarto relatório da série Diversity Matters [A diversidade importa], da McKinsey aponta que empresas com mais representatividade étnica são 39% mais propensas a terem desempenho superior que seus pares. Companhias onde há mais mulheres na liderança (acima de 30% de mulheres na equipe executiva) são significativamente mais propensas a superarem financeiramente aquelas onde a representatividade é inferior a 30%.

O pensamento diverso potencializa negócios, uma vez que traz diferentes perspectivas sobre determinadas questões, amplia a visão sobre a possibilidade de novos produtos ou serviços, contribui para a resolução de problemas.

Vamos a um exemplo mais concreto: como um grupo de pessoas brancas pode criar, com propriedade, produtos que atendam às necessidades de pessoas negras? Como poderiam criar produtos para cabelos afros, por exemplo, sem ouvir essa população? Não é mais producente você ter uma equipe diversa que trará esse olhar?  Reportagem da Exame destaca que empreendedoras e os empreendedores negros movimentam R$ 1,7 trilhão por ano no Brasil e ainda assim, grandes empresas não investem no alto potencial desta classe consumidora.

Sob o ponto de vista da Comunicação, a diminuição do escopo de DE&I afeta times inteiros que de repente se veem sem emprego ou são realocados para outras áreas (vide case da Microsoft); nas agências de comunicação, o momento é de stand by, porém com algumas empresas já pontuando que os esforços em comunicar suas ações afirmativas vão diminuir… E quando falamos em Reputação, há um paradoxo que ainda precisa ser estudado por grupos de pesquisa e, infelizmente, resvala na polarização política: há muitos cidadãos que apoiam a queda das pautas de DE&I e há muitos que lutam para que todo o esforço até aqui não seja em vão.

Eu, particularmente, fico com o segundo grupo e não vejo com bons olhos grandes companhias que se despedem de seu discurso até ontem inclusivo para assumir uma posição neutra ou mesmo contrária à inclusão. Sob o meu ponto de vista, isso abala sua reputação e mostra que a diversidade e inclusão eram apenas… discurso.

Torçamos para que existam mais empresas como a Natura  – que publicou um manifesto afirmando que não há espaço para retrocessos –  ou seja, que sejam consistentes em suas diretrizes e, consequentemente, em sua Comunicação, que não deve apenas atender à demanda do momento mas refletir diretrizes reais e criar pontes para um futuro melhor e verdadeiramente inclusivo.

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