Sou de uma época na qual se formavam os primeiros núcleos de digital nas chamadas assessorias de imprensa. Naquele tempo, idos de 2008 – e acho que até hoje em alguns casos – o cliente da agência X começava a ver a importância de estar no Facebook e, mais tarde, no Twitter, e contratava esse serviço adicional, que tinha um
time diferente do seu atendimento. Em muitos casos, o serviço de assessoria ainda era e segue sendo a porta de entrada, ou o MVP (Produto Mínimo Viável), das agências de comunicação. O famoso ‘arroz com feijão’.
E, ainda que muitas empresas ainda busquem agências (vou chamar aqui de) tradicionais, em suas propostas apresentadas, acabam conhecendo muito mais do que o serviço de Assessoria de Imprensa. Este é o momento que temos para mostrar que somos muito mais do que só isso. Ou deveríamos ser.
Ainda vejo no mercado muitas agências quase que 100% focadas em assessoria. No discurso, até falam sobre comunicação 360º, mas na prática, estão olhando para quantos releases, artigos e pautas tem que entregar para um cliente. A própria Pesquisa Mega Brasil com Agências de Comunicação 2025/ Instituto Corda, mostrou que 87% das agências no Brasil tem o Relacionamento com a Mídia como seu produto mais vendido.
E não está necessariamente errado, mas, por outro lado, há um ponto importante aqui. Não existe nada mais gostoso do que um arroz com feijão fresquinho, bem-feito, não é mesmo? Então, se sua agência já está ou quer entrar na era da comunicação realmente integrada ou da consultoria, o seu MVP deve ser entregue com primor. O sell up (ou venda de um produto adicional para um cliente que já está na base) só vai acontecer quando o mínimo estiver sendo entregue.
Seu atendimento tem que saber divulgar um release (selecionar o melhor veículo, escrever da melhor forma), ‘vender’ uma pauta, fazer um follow up inteligente. Mas o ‘ir além’ também é imprescindível. Fazer reuniões para troca de ideias, dar tempo para a criatividade aflorar, fazer brainstorming.
Para além das relações públicas, existem oportunidades infinitas de realmente integrar a comunicação das empresas. A própria pesquisa citada acima já mostra Gestão de Redes Sociais (53,1%), Produção de conteúdo para diversas plataformas (24%), Comunicação Interna (18%), como alguns dos serviços que compõem a renda das agências.
Os dados também mostram que apenas 16,7% das agências brasileiras têm vendido Consultoria Estratégica, ajudando empresas clientes a terem um mesmo discurso em todas as frentes que usam para a sua comunicação. Ou seja, ainda que as demais
ferramentas não estejam nas suas mãos, às vezes, uma ‘intromissão’ pode ser bem-vinda e abrir portas no futuro.
É por isso que eu falo tanto por aqui e nas minhas redes que, talvez, o caminho seja olhar a comunicação antes de qualquer ferramenta. O digital já deixou há muito tempo
de ser um temperinho a mais no arroz com feijão. Aliás, o próprio já se dividiu em tantas frentes diferentes que falar só digital hoje, já não diz muito.
Na proposta desta coluna, e no título deste artigo, pergunto a vocês: o que estão fazendo para além da Assessoria de Imprensa (de verdade e entregando, não só no discurso)?
Em mais uma provocação, qual foi a última vez que a sua equipe de atendimento participou de um planejamento ou uma reunião de alinhamento com as pessoas que cuidam das redes sociais, das campanhas de inbound marketing, dos eventos do seu cliente?
Eu não sou do pensamento de que a Assessoria de Imprensa vai morrer ou está acabando, que fique claro. Mas aqui neste espaço, e para mim, vale sempre olhar além – e considerá-la sempre apenas mais uma pecinha dentro de uma estratégia maior de comunicação. E digo mais, ela nem sempre é fundamental para que uma empresa chegue no seu público. Mas isso é papo para um artigo futuro!