Sempre digo que a comunicação tem muito em comum com o café. A gente pode escolher a intensidade, experimentar novos aromas e até arriscar combinações inusitadas. Mas tem algo que não dá para abrir mão: o sabor autêntico. E, na comunicação, esse sabor vem do posicionamento.
Ficar em cima do muro custa caro. E não estou falando só de marcas ou veículos, mas também de cada profissional que carrega no crachá uma responsabilidade que vai muito além da sua opinião pessoal. E é aí que habita um tema espinhoso, mas urgente: até onde vai o posicionamento pessoal e onde começa o posicionamento institucional?
Cancelamentos, redes sociais e a ilusão da neutralidade
Um grande veículo de moda viveu recentemente uma crise que ilustra bem a situação. Um post pessoal de uma profissional provocou questionamentos não só sobre ela, mas também sobre o próprio veículo. O resultado? Cancelamentos, perda de credibilidade e pressão do público.
Do ponto de vista individual, o posicionamento deixou de ser apenas pessoal. A partir do momento em que alguém coloca o nome da empresa na bio do Instagram, por exemplo, seu perfil também se torna uma extensão da marca.
Isso significa que a liberdade de expressão existe, mas não é absoluta. Ela precisa conviver com outros direitos, como a proteção da imagem, da honra e da reputação de terceiros. E isso inclui os empregadores. Por isso, sim: manifestações nas redes sociais podem ter consequências sérias, até mesmo uma demissão por justa causa.
Posicionamento não é censura, é responsabilidade
Mas vamos deixar algo claro: apagar posts, punir ou demitir não resolve a raiz do problema. É apenas tapar o sol com a peneira. Se a empresa não trabalha a sua cultura, a próxima crise será apenas uma questão de tempo.
O que realmente faz diferença é ter políticas claras, cartilhas de comunicação, manuais de conduta e, acima de tudo, formação contínua da equipe. Porque, afinal, não estamos falando de “polir” a liberdade de expressão, mas de entender que ela vem acompanhada de consequências.
O público cobra coerência! E isso vale tanto para influenciadores quanto para jornalistas, executivos e qualquer profissional com visibilidade.
Então, para evitar crises e construir reputação de forma sólida, aqui vão algumas dicas práticas para uma boa cartilha de comunicação:
– Criar um manual de ética e conduta, deixando explícitas as expectativas sobre comportamento digital.
– Incluir diretrizes sobre uso responsável das redes sociais — pessoais e institucionais.
– Oferecer treinamentos periódicos para colaboradores entenderem os riscos e responsabilidades.
– Adotar o princípio do combinado não sai caro: políticas bem comunicadas reduzem ruídos internos e externos.
– Lembrar que cada funcionário é também um embaixador da marca.
Concluindo: café morno não convence!
Em tempos de polarização, nunca vamos agradar a todos. Mas, se há algo que aprendi, é que reputação se constrói na clareza dos valores inegociáveis, tanto pessoal quanto profissional, e o posicionamento precisa refletir isso.
No episódio mais recente do POD Ser Pauta, trouxe o advogado Eduardo Depassier e a estrategista de conteúdo Catita Silva para falar sobre o assunto. Quer ouvir a conversa completa? Ouça o episódio no Spotify!
Agora, vou ali tomar meu café bem quente, porque é melhor encarar a responsabilidade de frente do que deixar a xícara esfriar.